sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Visitinha

Ela chegou sem anúncio prévio, sem telefonemas, sem agendas, sem combinados antecipados, sem arrumações, sem as hipocrisias próprias das preparações. Ela chegou com aquele sorriso, meu velho conhecido dos tempos antigos. O mesmo sorriso que chegava perto de mim devagar, respeitosamente, qualificando meu espaço e minha dor de fera. Ignorava e ignora até hoje todos os discursos prontos sobre mim, numa atitude de afronta passiva, revolucionária sem bandeiras, desobediente, correndo riscos pessoais. Pedia licença para alisar meu cabelo. Fazia uma observação qualquer sobre minhas mãos, já sobre as mãos dela. Elogiava minha inteligência. Olhava fundo nos meus olhos, trocávamos saudades sem palavras, e eu quase podia crer que alguém chamava por mim. Contava uma história de era uma vez uma menina. Se és feliz, quero te ver bater as mãos.