sábado, 5 de abril de 2014

Medidas

A casa cabia numa mesa de tijolos. Não vale qualquer reforma, foi construída de modo ruim, nem casa não era. Era uma maquete de algo que estava logo ali, construída do jeito que deu. O que fazer com essa casinha? Com você nunca foi 'do jeito que deu', com você era sempre 'o melhor'. Muitos pesos, algumas medidas. E ainda pareço, diante de você, um poço de incompetência na vida. Ainda há um rio para atravessar, ainda há viagens a fazer, e agora casa, reforma, simulacros parecem tão pouco diante de um abraço com etiqueta de fraterno, meio desentendido, divertido, diante de uma risada, dessas que nascem no beijo, atravessam os pulmões e desprezam o dia e a boa educação. A música habita os ares.

Eu não durmo

'Eu não durmo enquanto você não chega'. Uma frase que poderia ter sido de algum códice de frases surradas das vitimizações, agora é plataforma de lançamento para um outra qualidade de ser e estar, anunciando conexão de almas, denunciando outro tempo, em que era preciso entrar nas pontas dos pés, sem comer, sem falar, um pé, o outro, uma mão, todas duas, era preciso pagar pela luz que foi inadvertidamente acesa, acesa para que não se esbarrasse em nada, em nome do silêncio que preserva o sono de quem, no fim das contas, não se importava. 'Eu não durmo, porque você pode precisar de mim. E eu estarei aqui. Eu amo você'. Antonella lembrou-se de que um dia pensou que jamais amaria como amou o Sr.Timorato. Hoje ela tem certeza, pois jamais amaria de novo unilateralmente, jamais se entregaria à vaidade de quem, no fim das contas, não amava (ninguém).

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

E pensar


E pensar na emoção que foi investida. E lembrar quando as cartas mostraram que demoraria um pouco mais para o sol brilhar na sua casa. E saber que você brilhou como caminho, e hoje não é mais. Despertou a nobreza, o orgulho, a realização de sonhos, e não é mais. Hoje, a despeito da nossa história, preciso deixar claro reiteradamente que não é mais o meu lugar. Você se vendeu por pouco (por nós, poucos), e por muito pelas transações sombrias (tantas), inalcançáveis pela consciência dos justos, que escutam os ecos disformes das suas explicações. Cada passo foi dado com inteireza, para levantar e cair, e descobri nesta nossa caminhada os rostos pelos quais agradecer as coisas mais simples. Você não é mais, as portas estão se fechando, coloco-me do lado de fora. Você não é mais, acabou, adeus.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Meda

"Medinho de morrer? Criatura, com quem você pensa que está falando, sua piriguete-de-meia-tigela? Você vem com suas fraldas ainda cagadas me perguntar se eu tenho medinho de morrer? Respeite minha morte, respeite minha vida, respeite minha dor, e, mais difícil, se dê ao respeito sua sonsinha que acha que é gente. Vá tomar sua cervejinha escondidinha de mamã antes de querer entender o meu porre, vá cantar suas aleluias no raio que te parta antes de querer me benzer, vá aprender da vida, vá aprender o que é um homem antes de querer me instruir, me educar, me advertir, e pior de tudo, antes de querer me interpretar, me entender com esses moldezinhos estúpidos que só cabem na sua cabeça estúpida de sua alma estúpida. Saia daqui, me deixe, e me deixe viver, e me deixe morrer do jeito que é, e vá à *****." E foi assim que acabou.