segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Dancing Queen

Amor, é verdade. E é aí que eu te falo que esses babacas podem posicionar-se de com grandes esforços para cagar todas essas regras, podem vomitar essa empáfia, podem se embebedar desta tão passageira posição, podem gritar que são gente, quem sabe convencem a si mesmos, mas aqui dentro eles são e serão sempre tão minusculamente apenas um bando de babacas, porque enquanto essa corja grita, tentando desesperadamente um lugar, eu, por puro desprezo me concentro em recordar e memorizar silenciosamente de cada acorde, cada nota, cada sustenido, cada grave e cada agudo... You can daaaance, you can jiiiive, having the time of your life, ooooh see that giiiirl, watch that scene, dig in the Dancing Queen... 

Rebeldia

Amo flores, plantas, raízes, amo aquela folhinha pequenininha, verdinha que nasce no meio do concreto, da pedra, da casa velha, da ponte em ruínas, da calçada mal cuidada. Essas plantas evocam, para quem quiser ver, a força da rebeldia. É como se respondessem ao desaforo da pedra com a altivez da flor; à estupidez do concreto com a elegância esguia da folhinha que lá vem do chão, e lá vai em direção ao céu. Saia da minha frente, não embargue minha vida, cale-se, pois é na sua dureza, boboca, que está seu ponto fraco; é na sua arrogância que está a sua ferida; é no seu poder que está a sua ruína; é na sua confiança que mora o agiota que cobra sua alma, que cobre sua vida, que apaga secretamente a sua luz.

sábado, 5 de abril de 2014

Medidas

A casa cabia numa mesa de tijolos. Não vale qualquer reforma, foi construída de modo ruim, nem casa não era. Era uma maquete de algo que estava logo ali, construída do jeito que deu. O que fazer com essa casinha? Com você nunca foi 'do jeito que deu', com você era sempre 'o melhor'. Muitos pesos, algumas medidas. E ainda pareço, diante de você, um poço de incompetência na vida. Ainda há um rio para atravessar, ainda há viagens a fazer, e agora casa, reforma, simulacros parecem tão pouco diante de um abraço com etiqueta de fraterno, meio desentendido, divertido, diante de uma risada, dessas que nascem no beijo, atravessam os pulmões e desprezam o dia e a boa educação. A música habita os ares.

Eu não durmo

'Eu não durmo enquanto você não chega'. Uma frase que poderia ter sido de algum códice de frases surradas das vitimizações, agora é plataforma de lançamento para um outra qualidade de ser e estar, anunciando conexão de almas, denunciando outro tempo, em que era preciso entrar nas pontas dos pés, sem comer, sem falar, um pé, o outro, uma mão, todas duas, era preciso pagar pela luz que foi inadvertidamente acesa, acesa para que não se esbarrasse em nada, em nome do silêncio que preserva o sono de quem, no fim das contas, não se importava. 'Eu não durmo, porque você pode precisar de mim. E eu estarei aqui. Eu amo você'. Antonella lembrou-se de que um dia pensou que jamais amaria como amou o Sr.Timorato. Hoje ela tem certeza, pois jamais amaria de novo unilateralmente, jamais se entregaria à vaidade de quem, no fim das contas, não amava (ninguém).

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

E pensar


E pensar na emoção que foi investida. E lembrar quando as cartas mostraram que demoraria um pouco mais para o sol brilhar na sua casa. E saber que você brilhou como caminho, e hoje não é mais. Despertou a nobreza, o orgulho, a realização de sonhos, e não é mais. Hoje, a despeito da nossa história, preciso deixar claro reiteradamente que não é mais o meu lugar. Você se vendeu por pouco (por nós, poucos), e por muito pelas transações sombrias (tantas), inalcançáveis pela consciência dos justos, que escutam os ecos disformes das suas explicações. Cada passo foi dado com inteireza, para levantar e cair, e descobri nesta nossa caminhada os rostos pelos quais agradecer as coisas mais simples. Você não é mais, as portas estão se fechando, coloco-me do lado de fora. Você não é mais, acabou, adeus.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Meda

"Medinho de morrer? Criatura, com quem você pensa que está falando, sua piriguete-de-meia-tigela? Você vem com suas fraldas ainda cagadas me perguntar se eu tenho medinho de morrer? Respeite minha morte, respeite minha vida, respeite minha dor, e, mais difícil, se dê ao respeito sua sonsinha que acha que é gente. Vá tomar sua cervejinha escondidinha de mamã antes de querer entender o meu porre, vá cantar suas aleluias no raio que te parta antes de querer me benzer, vá aprender da vida, vá aprender o que é um homem antes de querer me instruir, me educar, me advertir, e pior de tudo, antes de querer me interpretar, me entender com esses moldezinhos estúpidos que só cabem na sua cabeça estúpida de sua alma estúpida. Saia daqui, me deixe, e me deixe viver, e me deixe morrer do jeito que é, e vá à *****." E foi assim que acabou.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Adaptação

Aquela criança precisou se adaptar. Homens e mulheres são diferentes, não adianta teimar, não olhe nos olhos, olhe nas roupas, e se não souber, cale-se. Os segredos e a vida são iguais por serem invisíveis, ainda que sejam percebidos em cada poro da cara, mas não pode dizer, esse é o sinal para… calar-se. Ao notar que alguém está mentindo, não pode rir, não pode falar, não pode mexer, não pode cantar, obedeça, nem todo mundo percebe quando alguém mente, não vai ser você o diferente, viu? Cale-seA sua avó mor-reu, repita comigo: mor-reu, ela não conversa com você, ela não te conta histórias à noite, então cale-se. Pare de ler, vai endoidar. Não, cachorro, peixe, gato e passarinho não falam, não falaram nada, esqueça e cale-se. 

Estrangeiro

O desconforto com os sapatos se fazia notar pelo andar endurecido, e a composição do vestuário parecia satisfazer normas estrangeiras. O esforço em manter a discrição era notado pelos que ainda não estavam cegos pela pressa, ritmo da cidade que não dorme nem se apieda de ninguém. A viagem seria longa, e se não fosse ainda a incerteza do que haveria por lá. Na bagagem o xarope, quase simbólico, roupas próprias para a ocasião, e sapatos, ah, mais essa agora, sapatos, esses adereços inúteis que só servem para deixar os pés vendados e incapazes de ouvir o chão.

Meio

No meio, no entre-os-mundos, sem tempo e no chão, onde o ditado popular assegura que dali nada passa, tomada por uma ladeira da preguiça ao posicionar-se sobre qualquer novidade que o dia lhe tivesse reservado, foi que viu aproximar-se, com amizade e proximidades desconcertantes, a luz em forma humana, sorrindo como quem acha engraçado - ou aguarda há muito - a própria imobilidade. Ah, é assim que, sendo duas, é que se descansa da vida. Ah, é assim que se prepara para a guerra? Ou se sai dela?

Das antigas

"Em Quebec-Alfa-Papa, prossiga. Em Quebec-Romeu-Bravo longe de você, Quebec-Romeu-Alfa interna. Quebec-Romeu-Fox mundo meu, com Quebec-Romeu-Hotel variada, impensável, ora esta, ora aquela, ora nenhuma delas. Quebec-Romeu-Kilo 5 ponto 5 para mim, 1 ponto 5 para lá. Quebec-Romeu Mike 1 ponto 5, é assim que é. QRVida, Quebec-Sierra-Fox absolutely safe, Quebec-Tango-Lima no meu norte, Quebec-Tango-November só se for já, Quebec-Uniform-Oscar nada, já encontrei, Quebec-Uniform-Romeu só se for eu, Quebec-Uniform-XRay, anotaê: pitaco, so se solicitado, Quebec-Romeu-Tango, e fim".  E foi assim que acabou...