sábado, 5 de abril de 2014

Medidas

A casa cabia numa mesa de tijolos. Não vale qualquer reforma, foi construída de modo ruim, nem casa não era. Era uma maquete de algo que estava logo ali, construída do jeito que deu. O que fazer com essa casinha? Com você nunca foi 'do jeito que deu', com você era sempre 'o melhor'. Muitos pesos, algumas medidas. E ainda pareço, diante de você, um poço de incompetência na vida. Ainda há um rio para atravessar, ainda há viagens a fazer, e agora casa, reforma, simulacros parecem tão pouco diante de um abraço com etiqueta de fraterno, meio desentendido, divertido, diante de uma risada, dessas que nascem no beijo, atravessam os pulmões e desprezam o dia e a boa educação. A música habita os ares.

Eu não durmo

'Eu não durmo enquanto você não chega'. Uma frase que poderia ter sido de algum códice de frases surradas das vitimizações, agora é plataforma de lançamento para um outra qualidade de ser e estar, anunciando conexão de almas, denunciando outro tempo, em que era preciso entrar nas pontas dos pés, sem comer, sem falar, um pé, o outro, uma mão, todas duas, era preciso pagar pela luz que foi inadvertidamente acesa, acesa para que não se esbarrasse em nada, em nome do silêncio que preserva o sono de quem, no fim das contas, não se importava. 'Eu não durmo, porque você pode precisar de mim. E eu estarei aqui. Eu amo você'. Antonella lembrou-se de que um dia pensou que jamais amaria como amou o Sr.Timorato. Hoje ela tem certeza, pois jamais amaria de novo unilateralmente, jamais se entregaria à vaidade de quem, no fim das contas, não amava (ninguém).