terça-feira, 28 de setembro de 2010

Natureba's boy

"Quer saber? Basta prestar o mínimo de atenção para se ter certeza de que há algo de errado com você. Não é possível, criatura, essa constante agonia expressa numa pele seca, branca, avermelhada, alérgica, doente, e vem querer me falar de vivência corporal como vivência divina? Me poupe! Seus deuses lhe esqueceram faz tempo. Não adianta fazer o personagem autista, você interpreta mal o papel, é incoerente, não convence, porque lhe escapa o fato de que a inteligência tem como base o afeto. A-F-E-T-O, uuuuhh, essa palavra perigosa e difícil de ser estudada etnograficamente. Outra coisa: radar de maluco é você com essa rama de mulheres problemáticas que lhe cercam, num jogo mórbido e circular que você elocubra ser parte do baguá da vida. Afeto, uuuuhh, que 'você não quis acreditar quando eu falava desses homens sórdidos' e que você misturou nos seus jogos competitivos, ardilosos, confusos. Ganhou por dáblio-ó, porque afeto não mistura com poder. Ok, ok, você não captou." ...E foi assim que acabou.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nascer de novo

"Quando lhe vejo assim, fico pensando que este tipo de defeito só tem jeito se nascer de novo. Fico imaginando a ironia das coisas: você pede tanta licença para um panteão de divindades, cheia dos ritos, cheia das rezas, e se esquece do respeito mínimo, aquele que se ensina às crianças, e é natural nas matilhas. Se fiquei em silêncio, foi pela ânsia de lhe perguntar: você não se enxerga? Você não se ouve? Fingida, performática, maquiada, falseada: cadê você? Ahn... se escondendo, logo vi. E essa historinha de ser guerreira que mata um leão por dia não faz nem boi dormir, porque todo mundo sabe que você é a pobre menina rica, mimada e eternamente carente, com essa falta crônica de pai e lei que sua geração sofre. Resumindo: vá cantar no raio que lhe parta, o que não será muito difícil, afinal, você já está meio quebradinha mesmo, ou então cumpra seu destino: nasça de novo." ...E foi assim que acabou.

sábado, 21 de agosto de 2010

Saudade

Antonella passou tempo demais da vida guiada por tudo o que era racional e seguro. Foi na música que os sentimentos vieram. Na música literalmente, 'na' sendo 'em'+'a', dentro da, dentro lá dentro mesmo, mergulhada, amalgamada na mágica dos acordes, dos sons, das letras, dos ritmos, dos timbres, coisas que ela jamais soube o nome, pois com a música a relação era de alma. Foi na música (na!) que ela sentiu saudade pela primeira vez, ou seja lá o que for o aperto manso que lhe tomava parte do coração, um pedaço do pescoço e, às vezes, metade dos músculos das pernas, e lhe acompanhava, como um cão fiel, o dia inteiro. Saudade inviável, fora de lugar, fora de época. Saudade da briga de amor que não causou, do beijo que não roubou, e pela palavra não dita, pelo brilho do olhar. Só uma palavra me devora... 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Setenta por cento

... "Setenta por cento problema meu é a **** que te *****. Não terá de mim a resposta elegante e hipócrita, e a opção de me calar para não expor o seu show de horrores retiro agora. Leve seus conjuros e macumbas interpretativas para o raio que te parta. Vá repetir seus mantras ideológicos na casa do *******, pois há muito não fazem sentido para mim, a não ser para denunciar que você está perdida na sua infantilidade. Sua covardia está historica e geograficamente deslocada, a guerra acabou faz tempo, e se ninguém te avisou, eu te aviso agora: seu país perdeu. Não é você nem a corja dos seus aliados que vão abaixar minha cabeça, e não venha se adonar do que pertence a ninguém, porque desta velhacaria eu já estou escolada. E não se meta com a minha espontaneidade, com o meu entusiasmo de viver, e muito menos, muito menos com a minha criança. Resumindo, vá à *****." ...E foi assim que acabou.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Brilho de faca

Durante muitos anos, Sr.Timorato Campos proibiu música em casa. Atribuía à música poderes hipnóticos que teriam levado Nelinha ao despautério de ir embora, fato que nunca entendeu, pois, afinal, Nelinha tinha o que toda mulher quer: um marido para cuidar e se submeter, uma casa para exercer seus dotes naturais femininos, comida, roupas condizentes com a posição de esposa, além do presente adicional que a vida proporcionou a ela como mulher: de ser ele um homem que cumpria religiosamente suas obrigações maritais oferecendo uma vez por mês, sexo de boa moral, com orações antes para pedir permissão, depois para pedir perdão, isento de delongas lascivas. O que mais ela poderia querer? Já aposentado, deu para ligar secretamente a velha televisão no horário da novela, e chorar calado ouvindo que há um brilho de faca, onde o amor vier, pois ninguém tem o mapa da alma da mulher, um ser maravilhoso, entre a serpente e a estrela.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Nome

Ao ouvir Violeta Parra cantando ‘es como descifrar signos sin ser sabio competente’, sonhou, num devaneio lúdico e vígil, que ela própria cantava Volver a los 17, no alto de uma montanha mineira, com direito a coro, cachoeira, rio e violão. Tomada por este fado mítico, viu-se enredando, enredando, cantando, cantando, como uma oração embolada, com uma língua incompetente, que não acompanha mais os sinais estabelecidos. Como el musguito em la piedra, ay si, si, siiii. O sentimento pode mais que a razão. Volver a sentir profundo como um niño frente a Dios. O que é preciso para lembrar de Deus? Lembrar-se, apenas lembrar-se. E lembrou-se: meu nome não é Nelinha. Meu nome é Antonella. Antonella. Antonella. Antonella. Eso es lo que siento yo en este instante fecundo. Decifrando signos, depois de viver um século, um diamante fino, numa alma serena, como um niño, ni el más claro proceder. Antonella.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Comida


Não era normal. Aquela criança ficava horas sentada à mesa até que terminasse de empurrar pela garganta, porção a porção, toda a quantidade designada da comida. Os horários ela sabia de cor, lidos no relógio com precisão. O desjejum, 5:30 às 9:30 da manhã. O almoço, 11:00 às 15:00. A banana da terra, de 15:30 às 17:30. O jantar, de 17:30 até às 19:00, hora de criança dormir. Comida melada, descolorida, empastada, enegrecida, misturada, empapada, feia e fria, comida de adulto, em prato adulto, em quantidade adulta, feita por adultos, num silêncio adulto, em disciplina rigorosa adulta. Asco e horror durante todo o dia, sem rir, sem falar, um pé, o outro, uma mão, a outra, uma palma, porção a porção, náusea, dor, solidão, silêncio: boca é só para comer. Horas e horas e horas olhando fixamente, buscando perceber o movimento sutil do ponteiro, do maior e até do menor.

Relógio

Não era normal. Aquela criança ficava horas olhando fixamente o relógio na parede. Horas. Um relógio vindo de além-mar, antigo, relíquia de gerações. No vidro da frente, algodão suave embebido em álcool; dois ponteiros e o pêndulo lustrados como se fossem de bronze raro; números esguios, claros e elegantes sob fundo branco; marca bem posicionada entre o centro e o seis; na madeira feltro e boa cera; corda reabastecida para garantir que jamais parasse; ajustado no prego, no centro da parede coluna, no centro da sala de jantar, no centro da casa alugada desde tempos imemoriais. Um toque de blam, preciso, baixo, mas firme a cada 30 minutos. Música compassada e toques fortes, militares, de blans e blans correspondentes ao número de horas, só para quem sabia contar, claro. Horas e horas e horas olhando fixamente, buscando perceber a mágica do movimento sutil dos ponteiros, do grande e do pequeno.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Questã de letra

Aprender a letra do Hino Nacional foi o desafio que tomou para si, com honras patrióticas, com estrela e chapéu de papelão feitos pelo avô para colocar sobre o uniforme da escola, com a advertência de que a espada feita com viga de construção ficaria restrita ao terreno da casa, que, afinal de contas, não era pequeno. Era bonitinho ver aquele menino tão orgulhoso de ser brasileiro, em tempos de ditadura, e longe ainda da copa do mundo. Cantou do jeito que entendeu, com ênfase e coração nas partes mais empolgantes: pátria amada! idolatrada! salve! saaaaaalve! Cantou a tarde toda, cantou como quem descobriu na vida o sentido de amar a própria terra. Soube alguns anos depois que o tio fora preso por fazer uma versão pândega do Hino, e só não foi morto porque aceitou trabalhar em alguma coisa que nunca ninguém lhe explicou direito o que era.

Questã de músca

Ao chegar no prédio da escola, agiu como se fosse familiarizado com os procedimentos de entrada, de permanecer calado, de ficar onde lhe colocassem, de por a mão no peito, de olhar para frente, ainda que não visse nada, pois, pequeno, era o último da fila. Ouviu uma música que vinha de um alto falante parecido com o que tinha na igreja matriz, incluindo os ruídos e zumbidos, e aguardava cada passo daquele rito com curiosidade e atenção de caçador, pois sabia que, na vida, estávamos todos juntos e sós. Quando a música começou, sentiu algo diferente do que sentia com os lamentos vindos dos hinos das manhãs de domingo, ou da banda que abria a alvorada do carnaval. Era a música que todos cantavam e, apesar de não saber a letra, grande e incompreensível, foi tomado por um orgulho íntimo de ser e estar ali.

Fuga

Diante das situações mais graves, a alma saía correndo, e o que ficava era um corpo de pé, mortificado, respondendo biologicamente aos estímulos de modo primitivo, com rosto pálido em choque. Aprendeu isso nas surras da infância, quando experimentava a impotência em estado bruto, loucura de uma geração de adultos que cresceu acreditando que rigor, disciplina e respeito se impunham com o chinelo, com a vara, com o chicote, até mesmo com a antena quebrada do rádio do fusca. Se por um lado a desconexão pelo pavor extraía a alma, por outro lado lhe dava coragem de zumbi morto, para passar incólume pelas durezas da vida. E, de fuga em fuga, de vez em quando, encontrava outras almas que aguardavam a vez para retornar, esperando o corpo torturado pedir por mais uma respiração, ou se despedir de vez, às vezes a contragosto, de mais uma missão viagem.

domingo, 16 de maio de 2010

Santo

Seu Benício, descalço, assentava meticulosamente o piso novo da igreja, consolando as tábuas centenárias de madeiras, pois agora seriam cobertas por piso de cerâmica imitação de pedra, e despedia-se de cada uma delas, e abençoava cada uma delas para o merecido descanso, ignorando solenemente a irritação pela demora da obra, que mantinha as missas na velha cabana do pátio. A Velha Bila discutia ao lado do altar com Padre Amedeo sobre quando os Santos haveriam de dar as promessas como quitadas, posto que foram feitas pela sua falecida mãe para que ela as cumprisse, o que achava um abuso, já não bastasse o trabalho todo que deu enquanto era viva. Como se conversar com gente fosse tão exceção quanto conversar com santos, Seu Benício voltou-se para o altar e disse: “santo que precisa de promessa, não me parece muito”. Começava aí uma amizade entre as duas pessoas mais improváveis, a Velha Bila e Seu Benício, que duraria toda a vida.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Voz do pai

Fazia tempo que ninguém mais ouvira falar de Nelinha, desde o dia em que ela deixou sem lavar a louça do desjejum, e ali mesmo, na pia da cozinha, escreveu e assinou um bilhete de pouquíssimas palavras: ‘é preciso saber viver’. No alvoroço e na falação própria da cidade, com as mais variadas versões sobre o sumiço de Nelinha, Sr.Timorato Campos, sempre ridico, zeloso e fofoqueiro, fez as contas: ela levara, na mala do casamento, algumas peças de roupas, os documentos pessoais, o dinheiro do pote, o pente de marfim dado pela avó materna aos 15 anos, e a caneta tinteiro Parker, presente do pai quando ela nasceu. O pai, homem sisudo e cismado, fechadão e difícil, não permitia intimidades de comentários, nem dentro nem fora de casa. Fazia tempo que ninguém mais o ouvira falar de Nelinha. E ele nem se dava conta que a história mal havia começado.

sábado, 24 de abril de 2010

Voz do Rei

Nelinha, a honrada esposa do Sr.Timorato Campos, mantinha-se ordeira na execução das rotinas domésticas específicas. Sua intuição, mais um dia, lhe incomodou, mas há muito não lhe dava voz. Mas foi exatamente a voz que venceu o torpor. Não a voz marital de tom professoral e avaliativo, mas a doce voz do Rei Roberto Carlos, em mais um lançamento nacional. (Quem espera que a vida, seja feita de ilusão...). O rádio, o companheiro fiel. (Pode até ficar maluco, ou viver na solidão...). O grito esquecido da alma. (Toda pedra no caminho, você pode retirar...). A confusão. (Você pode escolher, é preciso saber viver...). A lembrança de si. (É preciso saber viver...). Sentimentos de cachoeira e vulcão no mantra: é preciso saber viver. Na mágica da música: é preciso saber viver. No abrir da porta e dizer de própria voz: é preciso saber viver. No caminhar probo para o inusitado: é preciso saber viver.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Planalto

Para ela, Brasília não é, nem nunca foi um planalto vazio. Também não é um qualquer lugar. Sagrada e profana, a cidade guarda histórias e segredos de vilas, aventuras, montes, rios, esquinas, cenas, motos, jornais, árvores, flores, bombas, cavalos, uniformes, bandeiras, fotos, calçadas, cigarras, amoras e amores. E se qualquer maneira de amar valia, valia o gosto pelo lugar de ser, pois nos sonhos, Brasília é a casa mater, matrix, mother. Casa acolhedora das ruas solitárias da madrugada. Espaço infinito solar e celular. Luzes que mostram o caminho no céu. Brasília antropométrica, toponímica, teosófica, antígena, última, metrectômica. Caminhos únicos de ida, de seguir em frente, abertos, generosos, sem querer virar estátua de sal. Mágica no invisível do cotidiano. Mata aberta e misteriosa, grama e capeta, secura e água, sol e frio: lapis exilis, lapis philosophorum. Cerratense de alma, quem lhe furtará o prazer?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Negro

Ana, na maturidade, voltou a Ouro Preto. Foi lá quando criança, a contra-gosto, arrastada pela família que considerava elegante listar as cidades visitadas nas férias, como indicador claro de quem vive boa situação financeira. Sabendo que o destino brinca, sem dó com os sentimentos, decidiu brincar também e estar na cidade, assumindo que tudo muda. Refez a experiência de horror da infância diante do barroco, e pode, finalmente, apreciar a beleza da vida e da morte, dubiedade fundamental agora já integrada na alma. Mas foi na lanchonete modernosa edificada nos escombros da praça, ao entardecer, que se deu conta que lá estava ele, invisível a olho nu, parado no pilar, meio escondido, olhando Ana como se apreciasse alguém da própria família. Era jovem, forte, negro, com largas bochechas que se abriram num sorriso quando percebeu que Ana lhe retribuia, não sem um certo temor, o afeto e a consideração.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Rainha

Ana, na maturidade, voltou a Ouro Preto. Foi lá quando criança, a contra-gosto, arrastada pela família que considerava elegante listar as cidades visitadas nas férias, como indicador claro de quem vive boa situação financeira. Sabendo que o destino brinca, sem dó com os sentimentos, decidiu brincar também e estar na cidade, assumindo que tudo muda. Refez a experiência de horror da infância diante do barroco, e pode, finalmente, apreciar a beleza da vida e da morte, dubiedade fundamental agora já integrada na alma. Mas foi na lanchonete modernosa edificada nos escombros da praça, ao entardecer, que se deu conta que lá estava ele, invisível a olho nu, parado no pilar, meio escondido, olhando Ana como se apreciasse alguém da própria família. Era jovem, forte, negro, com largas bochechas que se abriram num sorriso quando percebeu que Ana lhe retribuia, não sem um certo temor, o afeto e a consideração.

Neném

Ana, na maturidade, voltou a Ouro Preto. Foi lá quando criança, a contra-gosto, arrastada pela família que considerava elegante listar as cidades visitadas nas férias, como indicador claro de quem vive boa situação financeira. Sabendo que o destino brinca, sem dó com os sentimentos, decidiu brincar também e estar na cidade, assumindo que tudo muda. Refez a experiência de horror da infância diante do barroco, e pode, finalmente, apreciar a beleza da vida e da morte, dubiedade fundamental agora já integrada na alma. Mas foi na lanchonete modernosa edificada nos escombros da praça, ao entardecer, que se deu conta que lá estava ele, invisível a olho nu, parado no pilar, meio escondido, olhando Ana como se apreciasse alguém da própria família. Era jovem, forte, negro, com largas bochechas que se abriram num sorriso quando percebeu que Ana lhe retribuia, não sem um certo temor, o afeto e a consideração.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sapo

Eu não imaginava que aquele homem sério, de terno elegante de linho cor de creme, chapéu e barba branca, impecável, quando era menino, um dia amanheceu encantado com o sonho do sapo. De manhã, na cozinha com os empregados, onde as crianças comiam, ouviu as notícias da distante Rio de Janeiro, o estado de guerra, a imposição da vacina, coisas terríveis. Mas ele tinha notícia melhor, tinha sonhado com o sapo grande, brilhoso, colorido, que tinha porta, boca que abria e fechava, e, obediente, levava as pessoas de um lado para o outro, mais rápido do que charrete, cavalo, ou trem. Saiu contando o dia todo para todo mundo, até ser motivo de riso, advertência e proibição. Foi lá na garagem da casa que ele me contou, quase em segredo, essa história do sapo, e me fez entender numa piscada marota de olho, o orgulho que foi ter o primeiro fusca da cidade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Terra Santa

Depois que ouviu Ana ler em tom solene, com dedo em riste, em bom português, a famosa passagem do Liber Exodus, ninguém mais viu Seu Benício com qualquer tipo de calçado. ‘É terra santa’, dizia e repetia: ‘é terra santa’, ‘toda terra é santa’. Passou a conversar com os rios, negociar com a chuva, dar notícias da vila para as mangueiras do terreiro. Com as mãos acarinhava cada folha da samambaia velha do varandão, e uma vez chorou, com emoção de parto e nascimento, diante dos brotos de arroz no brejinho. 'Toda terra é santa', repetia com sorriso transcendente, inatingível, de quem entendeu e guarda um segredo bom: 'toda terra é santa'. Tio Luigi guardava por ele um respeito infantil, e o considerava um sábio, e se não fosse o medo das cobras, ele mesmo iria para o mato descalço.