quarta-feira, 15 de julho de 2009

Discreta

Estefânia Tereza Carvalho do Carmo aproveitava as viagens dos pais novos-ricos para acampar, de mala e cuia, na casa distante, pequena e decadente de Odélia, Odília, Otacília e Odete, empregadas pobres do interior tentando a vida na cidade grande. Estefânia esvaziava a dispensa e garantia a estadia, em grande estilo, entre pessoas que jamais entenderam aquele movimento. Mas e daí que Odélia, Odília, Otacília, Odete e os parentes se confundiam com aquela presença? Nem por isso lhe tirava o gosto de tudo que foi vivido: as histórias de mato, as recordações das colheitas, as orações matinais, as frases de sabedoria interiorana, o colorido da louça mosaico do descarte das patroas, os chás de folhas, os doces baratos, as mãos enrugadas, e a nobreza escondida, discreta.