Vivi, vi, vindo e indo, daqui e dali, no realismo que é fantástico por natureza. Se eu vi a uva? E como vi! Uva popular de todas as feiras. Uva dos vinhos nas canecas dos antigos. Uva da vida, que dizem por aí que é a árvore primordial. Uva dúbia e direta, mandálica, urobórica, simbólica. Uva da abundância dos cachos, que se aprecia uma a uma. Uva doce e azeda. Uva que se vê. E quem não viu? A uva nossa de cada dia só não vê quem não quer.
sábado, 5 de abril de 2014
Eu não durmo
'Eu não durmo enquanto você não chega'. Uma frase que poderia ter sido de algum códice de frases surradas das vitimizações, agora é plataforma de lançamento para um outra qualidade de ser e estar, anunciando conexão de almas, denunciando outro tempo, em que era preciso entrar nas pontas dos pés, sem comer, sem falar, um pé, o outro, uma mão, todas duas, era preciso pagar pela luz que foi inadvertidamente acesa, acesa para que não se esbarrasse em nada, em nome do silêncio que preserva o sono de quem, no fim das contas, não se importava. 'Eu não durmo, porque você pode precisar de mim. E eu estarei aqui. Eu amo você'. Antonella lembrou-se de que um dia pensou que jamais amaria como amou o Sr.Timorato. Hoje ela tem certeza, pois jamais amaria de novo unilateralmente, jamais se entregaria à vaidade de quem, no fim das contas, não amava (ninguém).