Vivi, vi, vindo e indo, daqui e dali, no realismo que é fantástico por natureza. Se eu vi a uva? E como vi! Uva popular de todas as feiras. Uva dos vinhos nas canecas dos antigos. Uva da vida, que dizem por aí que é a árvore primordial. Uva dúbia e direta, mandálica, urobórica, simbólica. Uva da abundância dos cachos, que se aprecia uma a uma. Uva doce e azeda. Uva que se vê. E quem não viu? A uva nossa de cada dia só não vê quem não quer.
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
Rebeldia
Amo flores, plantas, raízes, amo aquela folhinha pequenininha, verdinha que nasce no meio do concreto, da pedra, da casa velha, da ponte em ruínas, da calçada mal cuidada. Essas plantas evocam, para quem quiser ver, a força da rebeldia. É como se respondessem ao desaforo da pedra com a altivez da flor; à estupidez do concreto com a elegância esguia da folhinha que lá vem do chão, e lá vai em direção ao céu. Saia da minha frente, não embargue minha vida, cale-se, pois é na sua dureza, boboca, que está seu ponto fraco; é na sua arrogância que está a sua ferida; é no seu poder que está a sua ruína; é na sua confiança que mora o agiota que cobra sua alma, que cobre sua vida, que apaga secretamente a sua luz.