segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Boneco

Foi o bo-ne-co da virulência da casa. Pequeno, teve a nudez devassada. Crescendo, teve a privacidade negada. Jovem, teve o diário assaltado, criticado. Com ira calma de refém, rasgou página por página, vagarosamente, minuciosamente depositadas na privada pública. Obediente, repetiu os jograis. Adulto, viveu nu, exposto, silenciado, como por costume. E este seria o fim da história se não fosse o meio. Adulto, deixou o poço. Maldito, inventou o mundo. Com a doçura tensa de algoz, vestiu peça por peça, pele por pele, secretamente, delicadamente. Casou, mudou e criou o menino. Velho, contou a história que ninguém acreditou, exceto o menino, filho-herdeiro, pai-criança, homem-mãe, falado, bendito e registrado. Idoso, morreu em paz.