quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sapo

Eu não imaginava que aquele homem sério, de terno elegante de linho cor de creme, chapéu e barba branca, impecável, quando era menino, um dia amanheceu encantado com o sonho do sapo. De manhã, na cozinha com os empregados, onde as crianças comiam, ouviu as notícias da distante Rio de Janeiro, o estado de guerra, a imposição da vacina, coisas terríveis. Mas ele tinha notícia melhor, tinha sonhado com o sapo grande, brilhoso, colorido, que tinha porta, boca que abria e fechava, e, obediente, levava as pessoas de um lado para o outro, mais rápido do que charrete, cavalo, ou trem. Saiu contando o dia todo para todo mundo, até ser motivo de riso, advertência e proibição. Foi lá na garagem da casa que ele me contou, quase em segredo, essa história do sapo, e me fez entender numa piscada marota de olho, o orgulho que foi ter o primeiro fusca da cidade.