quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Dancinha

Foi num desses bailinhos de garagem, bem próprios daqueles tempos, que a pequena mas já não tão pequena Ana, provou aquele sentimento. Veio com o fato de precisar de um par para dançar. No terreiro de Sebastiana, os batuques levavam a alma para passear. Na escola, o Hino Nacional fazia pular o coração patriota. Nas igrejas, sempre uma música triste e de advertência, cantada em lamentos de culpa, com direito a sangue e punição. No final da tarde, a moda de viola dos antigos contava histórias de dormir. Mas nas dancinhas de garagem, a música lenta, com o obrigatório inglês da moda, exigiam um par. A pequena Ana, a Ana branca da boneca negra, ao olhar para cada menino, para cada possível par, arrumado e sentado, sentiu o que mal sabia ela que atravessava gerações de mulheres: que era melhor contar apenas consigo.