terça-feira, 17 de novembro de 2009

Senzala

Todo mundo sabia que perto do casarão ficava a casa maldita e abandonada, feia, de telhado baixo, paredes tortas, suja, triste só de olhar. Entre as crianças se falava, em tom de ameaça, como se fosse exemplo e possibilidade, dos castigos e prisões que aconteceram ali, com a perversidade que só os adultos sabem ter. Os meninos eram os primeiros a correrem, mas eu mesma via a pequena Ana atraída pelo lugar, olhando fixo, se aproximando, cantarolando como se ouvisse ali uma música dessas de batuque que aceleram o coração. Virou e mexeu, Ana apareceu com uma boneca de pano antiga, negra, conversando e tagarelando como se fossem grandes amigas. Sebastiana dizia que Ana tinha alma africana, de espírito valente, guerreiro e antigo. Ana retribuía com um longo sorriso orgulhoso que só as crianças podem ter.