segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cheiro

Ana aprendeu com Sebastiana umas rezas em língua estrangeira que parecia um murmúrio, quase um lamento vindo do coração. Vez ou outra aparecia com velas coloridas em casa, fitas e adereços, colocados com um gesto específico para cada santo e santa. O velho Alê fingia não ver, e proibiu que se contasse para o Padre Amedeo. Tio Luigi, logo tio Luigi, que recusava-se a aceitar o ‘nunca mais’, viu que Ana sabia sentir o gosto estranho da presença sombria e autoritária da morte, reconhecida anos mais tarde, tantas vezes, nos leitos dos moribundos. Também sabia sentir o cheiro da vida, e de longe sorria para as mulheres, antes mesmo da barriga crescer, cúmplices de alma. Ana, de botina e saião, na Husqvarna, com mandingas de Sebastiana, olhares de mulher e bigodes de carvão.