quinta-feira, 7 de junho de 2012

Camisa

Não era apenas uma costurinha, um cerzidinho. A camisa estava irremediavelmente rota, desgastada na frente e nas costas, nas mangas e nas bainhas. Os olhos solicitantes da criança contrastavam com as roupas que denunciavam que essa geração era produto das cordas de tempos antigos. Roupas, pratos, casas, plantas, caminhos de exaustão, de falta, como uma cornucópia às avessas, numa eterna e irremediável precisão disso e daquilo e daquilo outro, sem fim, sem bastar jamais, como uma dívida de honra, infinita e impagável por definição. Bastou levantar um pouco os olhos para perceber o visgo musguento da fila ancestral que se formava a perder de vista, incluindo vivos e nem tanto, numa estrutura espiralada, que lembrava Adenina, Guanina, Timina e Citosina.