domingo, 2 de setembro de 2012

Beleza

Decidiu na vida ver beleza em tudo. Passou a contemplar a pequena florzinha, nascida do matinho, espremida no vãozinho do concreto, da ponta da calçada, aonde ninguém ia, arremate de construção por conveniência, deixado de lado ao ponto de juntar musgo. Ah, que musgo bonitinho, verdinho, parece que tem folhinhas pequeniníssimas, fractais, três tons quase parecidos de verde. As manchas no corpo viraram obras abstratas; os odores tornaram-se experiências sensoriais; no frio, admirava a capacidade de tremer; na fome, a capacidade de resistir; na doença, a intensidade da dor, a força do choro, a respiração que se vai, cada vez menor, e o olhar intenso, iluminado, despertando um sorriso íntimo, pessoal, único, e misterioso, marca de um adeus inesquecível.