domingo, 2 de setembro de 2012

Gesta

A gravidez foi mal recebida desde o primeiro momento. Onde já se viu uma pouca vergonha dessa? De onde ela tirou que poderia ter um filho fora da ordem, antes de ser autorizada, antes de ser legitimada, ainda que sem perspectiva para tal, pois é preciso fazer por merecer? Maldita, mal falada, desgraçada, demônia. Como tudo na vida, uma pequena diferença, uma desproporcionalmente grande emoção, confusa às vezes, intensa sempre, mudando parâmetros, lugares, crenças, horários, planos, carreiras. As pernas e os pés sentiam a terra generosa e prática: sim. Os olhos, a barriga, os seios, as vísceras, os braços: sim. A alma produzia uma certeza inexorável de ser: sim. Eu sou o que sou, eu sou loba e mãe.