quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ponta-cabeça

Sonhou a noite inteira com Franz Kafka, com quem teve diálogos fecundos, sim, porque os sonhos sempre se valeram de discursos, argumentações, números e frases, ouvindo Gadu. (“Ser capitã desse mundo”) Amanheceu no mundo de ponta-cabeça, como se estivesse numa estranha cidade onde os pedintes são arrogantes e debochados; os vendedores das lojas precisam ser adulados com muito tato, é preciso aguardar o fim da interminável conversa que os anima; os professores temem a hostilidade e a agressão dos alunos (“poder rodar sem fronteiras”); os pais mendigam o amor dos filhos; os funcionários contratados com o fim específico de representarem o bem público e servirem à população penduram avisos ameaçadores nos guichês, e sempre a culpa é do usuário, (“viver um ano em segundos”) que é responsabilizado por cada ato mal feito de cada servidor, numa imensa cadeia de incompetência e impunidade. Um mundo governado pela diversidade da casta dos imbecis. (“Quando mentir for preciso, poder falar a verdade”).