domingo, 27 de setembro de 2009

Vinho

Para ele, honrar um bom vinho dispensava qualquer cerimônia, pois era ato tão nobre e prazeroso quanto sorver água do riacho, a mesma água dos peixes e das algas, após uma longa caminhada num dia quente de trabalho. Para ele, saborear uma comida com ingredientes raros era como ter nos braços a pessoa amada: não eram necessárias as camas palacianas e bregas dos motéis. Os pratos eram servidos com a louça branca, em porções fartas, e ele aguardava, com doçura de menino, o sorriso da primeira garfada, a festa de passar o pão no prato, o olho que se fechava, como nos sonhos, ao beber, nas canecas, o melhor vinho tinto da praça.