Ao chegar no prédio da escola, agiu como se fosse familiarizado com os procedimentos de entrada, de permanecer calado, de ficar onde lhe colocassem, de por a mão no peito, de olhar para frente, ainda que não visse nada, pois, pequeno, era o último da fila. Ouviu uma música que vinha de um alto falante parecido com o que tinha na igreja matriz, incluindo os ruídos e zumbidos, e aguardava cada passo daquele rito com curiosidade e atenção de caçador, pois sabia que, na vida, estávamos todos juntos e sós. Quando a música começou, sentiu algo diferente do que sentia com os lamentos vindos dos hinos das manhãs de domingo, ou da banda que abria a alvorada do carnaval. Era a música que todos cantavam e, apesar de não saber a letra, grande e incompreensível, foi tomado por um orgulho íntimo de ser e estar ali.