domingo, 16 de maio de 2010

Santo

Seu Benício, descalço, assentava meticulosamente o piso novo da igreja, consolando as tábuas centenárias de madeiras, pois agora seriam cobertas por piso de cerâmica imitação de pedra, e despedia-se de cada uma delas, e abençoava cada uma delas para o merecido descanso, ignorando solenemente a irritação pela demora da obra, que mantinha as missas na velha cabana do pátio. A Velha Bila discutia ao lado do altar com Padre Amedeo sobre quando os Santos haveriam de dar as promessas como quitadas, posto que foram feitas pela sua falecida mãe para que ela as cumprisse, o que achava um abuso, já não bastasse o trabalho todo que deu enquanto era viva. Como se conversar com gente fosse tão exceção quanto conversar com santos, Seu Benício voltou-se para o altar e disse: “santo que precisa de promessa, não me parece muito”. Começava aí uma amizade entre as duas pessoas mais improváveis, a Velha Bila e Seu Benício, que duraria toda a vida.