segunda-feira, 26 de julho de 2010

Brilho de faca

Durante muitos anos, Sr.Timorato Campos proibiu música em casa. Atribuía à música poderes hipnóticos que teriam levado Nelinha ao despautério de ir embora, fato que nunca entendeu, pois, afinal, Nelinha tinha o que toda mulher quer: um marido para cuidar e se submeter, uma casa para exercer seus dotes naturais femininos, comida, roupas condizentes com a posição de esposa, além do presente adicional que a vida proporcionou a ela como mulher: de ser ele um homem que cumpria religiosamente suas obrigações maritais oferecendo uma vez por mês, sexo de boa moral, com orações antes para pedir permissão, depois para pedir perdão, isento de delongas lascivas. O que mais ela poderia querer? Já aposentado, deu para ligar secretamente a velha televisão no horário da novela, e chorar calado ouvindo que há um brilho de faca, onde o amor vier, pois ninguém tem o mapa da alma da mulher, um ser maravilhoso, entre a serpente e a estrela.