segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Milênios

Milênios de trabalho. Decênios de compromissos, agendas, listas, tarefas, a própria definição prática de infinito, insaciável, irrecuperável, impagável, impossível. Dívidas que só mesmo uma escrava, sem cidadania, poderia significar como quase honra pelo pouco valor dado exclusivamente à sua imensa força de trabalho. Como se o trabalho existisse por si mesmo, um deus independente, etéreo e auto-suficiente, a ser louvado e mimado; a ser servido aos seus propósitos, e com alguma misericórdia, jogasse pedacinhos de pão, comidos com grande agradecimento. Como se o próprio pão não viesse da alma, do coração, do afeto, essas palavras bregas e perigosas.