domingo, 29 de dezembro de 2013

Crime

Era uma árvore perigosíssima. Nasceu sem autorização, burlando as podas frequentes, fruto da negligência de jardineiros que eram pagos para deixarem aquela área limpa, enxuta, sem nada, a não ser a grama aparada como se aparavam os cabelos dos militares e dos encarcerados. Um absurdo era essa árvore: abrigava musgos, e uma vez alguém com certeza viu uma lagarta por ali, uma lagarta, ora essa. Folhas e flores caiam no chão, fazendo a sujeira habitual, ainda mais na sombra desta abusada, que florescia nos períodos de seca. Isso sem contar o berreiro insano das cigarras de novembro, ah, as cigarras, quem as eliminará? Ano após ano, ela se deu bem, debochada. Mas foi neste novembro, com a chuva repentina, que ela cometeu seu maior crime, quando um galho se soltou e… arranhou o lustroso carro. Não tardou para ouvirmos o uivo, como uma ópera, da justiça em forma de motosserra oficial, estrinchar essa criminosa em 17 pedaços mortos de madeira.