Era uma árvore perigosíssima. Nasceu sem autorização, burlando as podas frequentes, fruto da negligência de jardineiros que eram pagos para deixarem aquela área limpa, enxuta, sem nada, a não ser a grama aparada como se aparavam os cabelos dos militares e dos encarcerados. Um absurdo era essa árvore: abrigava musgos, e uma vez alguém com certeza viu uma lagarta por ali, uma lagarta, ora essa. Folhas e flores caiam no chão, fazendo a sujeira habitual, ainda mais na sombra desta abusada, que florescia nos períodos de seca. Isso sem contar o berreiro insano das cigarras de novembro, ah, as cigarras, quem as eliminará? Ano após ano, ela se deu bem, debochada. Mas foi neste novembro, com a chuva repentina, que ela cometeu seu maior crime, quando um galho se soltou e… arranhou o lustroso carro. Não tardou para ouvirmos o uivo, como uma ópera, da justiça em forma de motosserra oficial, estrinchar essa criminosa em 17 pedaços mortos de madeira.