terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Continente

Era um continente a ser explorado numa viagem singular. Desde o início Ana foi advertida dos perigos, das doenças, da ignorância e da precariedade das coisas que iria encontrar. Ana manteve a discrição necessária sobre si. Ela que desde sempre conheceu línguas e rezas no terreiro de Sebastiana. Ela que desde sempre distinguiu os vivos dos nem tanto e dos que nasceriam logo logo. Viajou  aberta às possibilidades, quase desarmada, mas atenta à mudança de configuração que estava por chegar. A novidade foi saber que os perigos, as doenças, as ignorâncias e as precariedade das coisas viriam da fonte inusitada: a mão visível que aceitou empunhava a ambiguidade invisível e sombrio. No olhar brilhante da negra em dores, o adeus à vida, com dignidade real. Desde sempre.